Raiva! Mas contra quem?

       Esse é um testemunho de um fato que aconteceu enquanto morava em Ilha Solteira, lugar onde fiz minha faculdade e morei por quatro anos e meio. Lugar onde aprendi a andar com o Senhor dia a dia.

       Onde eu Morava em Ilha Solteira os quartos eram dessa maneira:

       Eram dois quartos por banheiro, então o quarto da esquerda era o meu vizinho que usava o mesmo banheiro que eu e o da direita já era outro quarto pra outro banheiro. Esse lugar onde eu morava se chama “Pousada da Ilha” e a rotatividade de pessoas é muito grande, uma hora seu vizinho é um, de repente já é outro, e no final da história você nunca sabe quem vai ser seu vizinho.

       Pois bem, durante todo esse tempo consegui observar duas coisas (lógico que observei muito mais, mas quero falar só dessas duas kkkkkk): a primeira é que a tomada que ficava do lado da minha cama tinha o mesmo buraco da tomada do quarto da direita. Olhando a figura aí em baixo a gente pode ver o espaço onde ficava a minha cama e a tomada. Não dava pra ver nada, mas o barulho que fluía através da parede era mais forte na tomada, ou seja, reforçando a idéia de que tinha um buraco dentro da tomada que unia os dois quartos.

       A outra coisa é que o teto do banheiro, que era todo vazado, ele dava direto para o forro do telhado, ou seja, todos os banheiros tinham o teto vazado para um lugar comum. Então por causa disso eu poderia ouvir os sons que porventura acontecessem no banheiro ao lado.

       Se o problema fosse somente o barulho estava bom, porém havia outro problema: o cheiro! Diferentemente do barulho, o cheiro não conseguia atravessar a parede, mas entrava pelo buraco da tomada. E no banheiro a mesma coisa, não era apenas o barulho que passava pelo teto vazado, mas o cheiro também... e foi aí que começou todo o problema.

       Ilha Solteira é MUITO quente, e por causa disso eu tinha um ar condicionado no meu quarto que eu pagava mensalmente, então não fazia diferença se eu ligasse 1 hora por dia ou ligasse 10 horas por dia porque o valor era o mesmo. Todos os dias que eu chegava em casa já ligava o ar condicionado e ficava lá fazendo o que eu tinha que fazer, e por conta disso nem abria muito a janela, pra falar a verdade acho que dá pra contar nos dedos (do pé e da mão de umas 3 pessoas kkkkkkkkkkkk) quantas vezes eu abri a janela em quatro anos e meio. Certo dia, entrei no meu quarto e senti um cheiro forte de cigarro, mas como minha janela dava para a rua nem relevei muito, poderia ser alguém de fora e o cheiro estava passando pelas frestas da janela e entrando pelo vão do vidro. Mas algo estava estranho pois o cheiro estava forte e não era apenas no meu quarto, mas no banheiro também. Isso se repetiu por alguns dias e cada dia que passava eu ficava mais irado porque nunca curti cheiro de cigarro. Parecia que esse cheiro de cigarro estava alimentando uma bomba dentro de mim, pois os dias passavam e o cheiro não desaparecia e eu ficava mais atordoado.

       Foi então que minhas suspeitas se tornaram em convicção. Estava entrando eu pelo corredor onde ficava meu quarto, e passei pela porta que dá entrada pro quarto da direita, ahhhh o quarto da direita, era ali que vivia meu novo vizinho! Era essa a causa do meu lamento, um cara de mais ou menos uns 35 anos que me cumprimentou enquanto eu passava pela porta que dá acesso ao quarto dele. Não estava fumando aquela hora, pois estava no corredor, mas tinha voz de fumante e dava pra sentir que o cheiro emanava dali kkkkkkk. Descobri a fonte do alimento da minha raiva e meu atual problema residencial.

       E pra melhorar o quadro aconteceu a gota d’água. Quando ia buscar minhas roupas que havia lavado e deixado no varal, eu empilhava todas, uma em cima da outra, esticadas, e em cima da minha cama para dobrar no final do dia, desse jeito não precisava passar nenhuma roupa =) Certo dia fui fazer isso, e como vimos lá na figura a minha cama ficava do lado da tomada, é aquela que tinha um furo comum aos dois quartos. Já viu o que aconteceu né? Pois é, cheguei em casa e minhas roupas e minha cama estavam com cheiro de cigarro. Mas aquele dia eu fiquei muito bravo, e disse comigo mesmo: “agora ele vai ver!”. Eu comecei a orar impondo as mãos em direção ao quarto dele e orava pra Deus, ou fazer ele engolir aquele cigarro ou converter ele que eu não agüentava mais. E orei algumas vezes. E todas as vezes que eu sentia cheiro de cigarro eu pegava o cd “Deus Conosco” e ligava meu som no último volume pra ver se ele se mancava. Isso se repetiu por vários dias. Nem reparei quando foi que acabou o cheiro, mas o fato é que depois de alguns dias sumiu e eu nunca mais vi o rapaz no corredor. Teria ele engolido o cigarro? Kkkkkkkkkkkkkkkkk

       Eu participava do louvor da igreja como back-vocal (por incrível que pareça!). E, depois de algum tempo do ocorrido, durante o louvor de um culto vi no meio das pessoas um rapaz que eu já tinha visto em algum lugar, mas não conseguia me lembrar de onde. Olhava pra ele de várias vezes e tentava buscar na memória de onde o conhecia, e ele num momento olhou como se me conhecesse também. Naquele dia desci do altar e comecei a cumprimentar as pessoas e não vi mais o rapaz que me deixara tão intrigado. E então no culto do outro dia estava lá ele novamente, e dessa vez eu estava decidido que iria cumprimentá-lo e quem sabe lembrar de onde era. No final do culto para minha surpresa quem veio me cumprimentar foi ele, e disse:

       -Não sei se vai se lembrar de mim, mas eu precisava vir falar com você. Sou de Pereira Barreto (cidade vizinha de Ilha Solteira), vim trabalhar em Ilha Solteira e eu era seu vizinho na Pousada. Queria te dizer que eu estava longe dos caminhos de Deus, com a vida destruída e fumava muito. E enquanto eu fumava ouvia do seu quarto um cd tocando musicas muito bonitas e também um testemunho que tinha no meio das musicas. Quero dizer que Deus foi trabalhando no meu coração enquanto seu cd tocava e hoje já estou de volta pros braços do Senhor e larguei o cigarro.

       Naquele momento eu não sabia o que dizer, fazer, só sei que meus olhos encheram de lágrimas, e eu abracei o rapaz e pudemos conversar mais um pouco. Naquele dia voltei pra casa muito alegre, com a plena certeza de ter sido usado como instrumento de benção na vida daquele rapaz. Não há alegria maior que essa, ser usado nas mãos do Senhor para cumprir os propósitos dEle aqui na Terra, pois afinal fui criado pra isso, louvor e glória dEle.

       Aprendo uma coisa com o que aconteceu. “Que nossas vitórias contra as injustiças da vida são determinadas pelo tipo de armas que usaremos contra os nossos inimigos.” A primeira coisa a se analisar nessa frase é a palavra “inimigos”. Quem são realmente os nossos inimigos?

       “...porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.” Efésios 6:12

       Então não devemos ficar nervosos com as pessoas, mas entender que há uma outra dimensão interagindo com a nossa e que as coisas que acontecem aqui são intrinsecamente ligadas com as que acontecem na outra dimensão, a espiritual. E a segunda são os “tipos de armas” que iremos usar. Uma vez identificado quais são nossos inimigos, então temos que usar armas eficazes contra eles. Para quem gosta de jogo de estratégia vai entender direitinho que eu estou falando, pois lá há alguns personagens que destroem mais fácil certos tipos de construções do que outros tipos. Então se eu quero destruir inimigos espirituais eu preciso usar armas espirituais, faz sentido, não?

       “É claro que somos humanos, mas não lutamos por motivos humanos. As armas que usamos na nossa luta não são do mundo; são armas poderosas de Deus, capazes de destruir fortalezas. E assim destruímos idéias falsas e também todo orgulho humano que não deixa que as pessoas conheçam a Deus. Dominamos todo pensamento humano e fazemos com que ele obedeça a Cristo.” II Coríntios 10:3-5 NTLH

       E as armas do cristão são a vida de santificação, a oração e o louvor. Contra essas coisas o diabo não pode, e certamente seus capangas também não. Estamos numa batalha, ficamos tensos, aflitos e com raiva de algumas coisas que são aparentemente injustas. Saiba que a vitória é certa se formos no nome de Jesus, que Ele disse que é para termos bom animo pois ele já venceu o mundo e que certamente com as armas corretas venceremos o inimigo certo sem machucarmos vidas inocentes.